A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) reconhece a reciclagem de plásticos como parte essencial no enfrentamento da poluição plástica e apoia o Acordo Global liderado pela ONU, que visa desenvolver um instrumento internacional juridicamente vinculante com abordagem abrangente sobre todo o ciclo de vida do plástico. O Brasil possui uma trajetória singular nessa área.
Esse Acordo representa uma oportunidade única de alinhar esforços globais no combate à poluição plástica, promovendo uma gestão mais eficiente de resíduos e acelerando a transição para a economia circular. Porém, seu sucesso dependerá da capacidade de respeitar as diferentes realidades nacionais.
Para o nosso país, é fundamental fortalecer os sistemas de reciclagem existentes, valorizar o trabalho dos catadores e cooperativas, o que vai garantir a inclusão social e viabilizar mecanismos de financiamento baseados em princípios de equidade, que permitam superar os desafios locais.
A importância da reciclagem no Brasil
No Brasil, a reciclagem de plásticos é um pilar essencial para a promover a sustentabilidade no país. O setor é responsável por empregar cerca de 450 mil trabalhadores na coleta e triagem, sendo desses 14,6 mil empregos formais. Os catadores e as cooperativas são fundamentais nesse processo, sendo responsáveis pela recuperação de materiais recicláveis.
Pela reciclagem também passam diversas oportunidades para avançar na gestão eficiente de resíduos. Com cerca de 3.000 municípios (de 5.570) que ainda são dependentes de lixões, há um grande potencial para investir na substituição dessas áreas por aterros sanitários modernos, melhorando a gestão de resíduos e protegendo o meio ambiente.
Além disso, muitas regiões, especialmente rurais e periféricas, podem se beneficiar da implementação de sistemas de coleta seletiva mais robustos, ampliando a recuperação de materiais recicláveis e fortalecendo toda a cadeia.
A chance de concluir a criação de um acordo pode fortalecer cenários positivos para os países, especialmente os em desenvolvimento, como o Brasil. Isso pode garantir investimentos em infraestrutura, valorização dos profissionais envolvidos e evitar a imposição de modelos que desconsiderem as particularidades dessas realidades.
Porém, também existem riscos para a reciclagem brasileira. O principal está nas propostas que buscam banir certos tipos de plásticos sem considerar redesign, reutilização e impactos de substituição com avaliação de ciclo de vida.
Medidas como essa podem desarticular a cadeia de reciclagem, reduzindo a disponibilidade de materiais e impactando diretamente os catadores e cooperativas que dependem deles para sua subsistência.
Além disso, proibições generalizadas podem ter impacto no desenvolvimento econômico, especialmente em países em desenvolvimento, afetando a economia e a geração de empregos.
O caminho para a economia circular
Diante desse cenário, o melhor caminho seria uma abordagem que equilibre inovação tecnológica e inclusão social. A indústria química brasileira já avança nesse sentido, desenvolvendo iniciativas como a reciclagem química e o ecodesign de embalagens, que reduz o uso de matérias-primas, aumentando o potencial de reciclagem e minimizando desperdícios.
O Acordo Global do Plástico deve promover o desenvolvimento de tecnologias inovadoras e, ao mesmo tempo, fortalecer os catadores e cooperativas por meio de programas de capacitação e investimentos em infraestrutura, sempre com respeito às realidades locais.
O apoio estruturado a esses profissionais é essencial para construir uma economia circular eficiente, sem comprometer empregos, e para consolidar políticas que assegurem uma transição justa e inclusiva, alinhada às particularidades regionais.
A Abiquim e o Brasil estão prontos para fazer parte dessa transição, unindo inovação tecnológica e inclusão social em um modelo circular eficiente e justo.
